Nasce um gigante.
Em 2012 começa uma história incrível, sem um protagonista, pois o trabalho homogêneo em equipe é a característica que faz desse serviço um serviço de excelência. Após anos atendendo com uma estrutura que não se alinhava ao crescimento da cidade, fomos presenteados com um pronto socorro enorme, estruturado e lindo. Diferente da realidade anterior, ele separa os setores, possibilita organização do fluxo, oferece local de espera com conforto. Com iluminação e arejado, corredores amplos, a sala vermelha ou sala de urgência equipados? E para quem é apaixonado por emergência aquela sala faz brilhar os olhos! E viemos ao novo “Janjão Novo” – era chamado assim no início. A nova estrutura impulsionou ainda mais os colaboradores, que mesmo com as limitações físicas do local anterior, trabalhavam com afinco e dedicação. Chegaram novos colaboradores, a equipe foi aumentando, número de atendimentos e graus de complexidade também. Um serviço porta aberta, acolhedor, composto por gente comprometida que trabalha muito, luta muito, faz o que tem enquanto não tem condições de fazer melhor ainda; e faz melhor ainda quando tem condições! Emanamos histórias e vida! E cada profissional aqui faz parte da história de cada paciente atendido. Devolvem pais e mães às famílias, tiram a dor, socorrem rápido e encaminham para os demais serviços, estabilizam as dores físicas e psíquicas, abraçam e acolhem aqueles que perderam alguém, pois nem sempre o desfecho é feliz e sofremos com as famílias. Os profissionais também compartilham aqui as próprias histórias seja buscando ampliar os conhecimentos e cursando faculdade, casam, têm filhos (e estes ganham tias e tios babões), evoluem, aprendem a dirigir e logo oferecem carona para outros da equipe, se aposentam, cultivam amizades sinceras. É um serviço de gente que se movimenta. E nesse vai e vem, chega a pandemia. Diferente de tudo que já viveram (e certamente já passaram por várias lutas).
Chega urgente, sem muito explicar como agir. Devastadora. Imprevisível. E então tiveram que aprender a sobreviver enquanto perdíamos colegas, pacientes, amigos. Viram diante dos olhos as pessoas partindo enquanto não entendiam direito o que estava acontecendo. E mesmo assim, enquanto as informações chegavam e o medo nos rondava, optaram por não parar: o mais urgente é salvar vidas. Um desafio diário: manter vivo aqueles que estavam sob seus cuidados. E assim fizemos, dando de cada um, muito mais do que podiam imaginar. Medo de voltar às próprias casas e deixar doente aqueles que tanto amavam. Muitos se separaram, se isolaram para preservar a saúde da família e solitários em casa se recuperavam para continuar a batalha. Nesse momento terrível lutaram juntos. Aprenderam juntos a força que tem enquanto equipe, enquanto família Álvaro Azzuz. O Pronto Socorro se tornou referência para atender pacientes afetados pelo vírus e sustentou com maestria essa missão, pois o que foi feito aqui durante essa terrível pandemia, nem quem viveu é capaz qualificar. O choro de exaustão, a sensação de impotência diante de tudo, eram interrompidos pela missão maior de continuar servindo.
Heróis. Sim, esse serviço é uma casa de heróis, que com defeitos e qualidades, potencialidades e fragilidades, como todo ser humano e todo herói tem. Saem de casa diariamente para transformar a vida de alguém. Apesar das dificuldades o objetivo é sempre salvar, melhorar e lutar pela respiração que mantém os sonhos.
Pandemia passou. As coisas, lentamente e ainda de forma estranha, voltam ao normal. Relatos são contados eventualmente. Torcemos para que o sentimento de gratidão e o reconhecimento da importância deste serviço perdure por muito tempo e que a rotina dura não dissolva os feitos de bravura e generosidade que esse povo e esse equipamento fundamental escreveram na história da cidade de Franca.